Copa da Inglaterra teve tudo de que o futebol precisa – 04/06/2023 – Juca Kfouri
Havia sol sobre o abarrotado estádio de Wembley, com 83 mil torcedores rigorosamente divididos entre os azuis e os vermelhos de Manchester.
Londres ensolarada também vale uma missa.
O que ninguém esperava no santuário do futebol era um gol em 12 segundos —e Gündogan tratou de fazê-lo em bola que viajou do goleiro Ortega até a cabeça de Haaland, dela para a de Kevin De Bruyne, que testou para o alemão acertar um chute mais raro que a luminosa tarde londrina.
O Manchester City saía na frente do rival United na decisão da Copa da Inglaterra e por muito pouco não fez mais gols em três oportunidades que criou diante do adversário grogue, surpreso como o mundo por ser vítima de golpe tão rápido.
Embora soubessem ser inferior aos azuis, os Diabos Vermelhos tinham uma camisa a honrar e trataram de honrá-la como podiam, até ser agraciados com um pênalti desses em que alguém julga o que é ou deixa de ser um gesto natural.
Tão impossível como avaliar intenções, agora temos sommeliers que decidem o que é natural, porque certamente jamais subiram para disputar uma bola pelo alto.
Não se surpreendam a rara leitora e o raro leitor se amanhã surgirem excepcionais zagueiros manetas como maneira criativa de evitar pênaltis.
Pênalti apitado, pênalti convertido, e o primeiro tempo terminou com uma interrogação no ar: o United evitaria a segunda coroa dos Cidadãos campeões da Premier League?
Não foram necessários mais que seis minutos no segundo tempo para que todos soubéssemos a resposta, em passe de De Bruyne para Gündongan, outra vez de fora da área, outra vez de primeira, fazer 2 a 1.
Então a iminência do terceiro gol rondou a área vermelha com abusada frequência, tamanha a superioridade do time azul.
Como ninguém é Red Devil por acaso, e como os Citizens não foram capazes do nocaute, os minutos finais foram verdadeiramente infernais e o empate que levaria à prorrogação esteve pelo menos duas vezes prestes a acontecer.
Dada a rivalidade centenária do Derby de Manchester, é possível dizer que o próximo passo do City para conquistar a tríplice coroa, com a vitória na final da Champions League, será menos dramático, simplesmente porque a Internazionale e o City jamais se enfrentaram, nem em amistosos, ou seja, o antagonismo entre os dois é nenhum.
Istambul, sábado, 10 de junho, 16h, no horário de Brasília, no SBT, canal aberto, na TNT, canal fechado, e na HBO Max, streaming.
Nenhum programa que você possa ter será melhor que ver o jogo, apesar de tanto os embates entre o City e o Real Madrid, pelas semifinais da Champions, quanto o Derby de Manchester parecerem insuperáveis.
Se os milaneses vencerem, será uma zebra e uma pena, só mais uma dessas coisas do futebol, tipo estraga-prazeres, como o Uruguai ganhar do Brasil, em 1950, ou a Alemanha vencer a Holanda, em 1974, ou a Itália superar o Brasil, em 1982.
Sim, o pragmatismo italiano adora estragar prazeres.
Se der o que o Planeta Bola espera e deseja como homenagem à beleza e à eficácia do esporte mais popular do mundo, você testemunhará a consolidação de um dos melhores times de todos os tempos, não por acaso novamente sob a inspiração deste genial catalão chamado Josep Guardiola i Sala, 52 anos, também conhecido como Pep Guardiola.
Ele é o primeiro a reconhecer que o City precisa conquistar a Europa.