Vice-campeão europeu em 2019 –perdeu a final da Champions League para o Liverpool–, o Tottenham é um dos times considerados grandes na Inglaterra.
Não tem o cartaz de um Manchester United, de um Manchester City, de um Liverpool ou de um Chelsea, porém, com jogadores como Harry Kane, Son Heung-min, Hugo Lloris e Richarlison, é respeitado nacional e internacionalmente.
A campanha nesta temporada no Campeonato Inglês (Premier League) tem sido razoavelmente boa, tanto que a equipe londrina, em quinto lugar até este sábado (29), está na disputa por uma vaga na próxima Liga dos Campeões da Europa.
Só que a imagem, levando-se em conta o universo completo, não está tão lustrosa.
Na Champions, eliminação nas oitavas de final diante do Milan; na Copa da Inglaterra, queda diante do Sheffield United também nas oitavas; e o título na Premier, que ficará com Man City ou Arsenal, nunca esteve próximo.
O treinador italiano Antonio Conte, conhecido pelo temperamento explosivo, saiu no fim de março, depois de criticar os jogadores após o 3 a 3 (o Tottenham ganhava por 3 a 1) com o lanterna do Inglês, o Southampton.
No geral, nas dez partidas mais recentes, apenas duas vitórias, com quatro derrotas e quatro empates. A torcida não tem motivo para estar pulando de felicidade.
Teve motivo, porém, para pular de raiva no fim de semana passado. Em uma das partidas mais decepcionantes de sua história de 140 anos, o Tottenham, em visita ao Newscastle (rival por um lugar na Champions), levou uma goleada de 6 a 1.
Uma tremenda sova. Com 21 minutos de jogo, já perdia de 5 a 0, e o goleiro Lloris foi substituído no intervalo pelo técnico interino, Cristian Stellini, que era auxiliar de Conte. Talvez para evitar uma humilhação ainda maior para o campeão do mundo com a França em 2018 e vice em 2022.
O resultado derrubou Stellini, que permaneceu apenas quatro partidas (uma vitória, um empate e duas derrotas, incluindo a para o Newcastle). Entrou, também interinamente, Ryan Mason.
O vexame em Newcastle, contudo, não passou incólume pelos jogadores. Envergonhados e sentindo-se culpados, decidiram ressarcir os torcedores que deixaram Londres e viajaram ao norte da Inglaterra para apoiar a equipe, recebendo em troca uma tarde de sofrimento e lamento.
“Como equipe, entendemos sua frustração, sua raiva”, escreveu Lloris em comunicado em nome dos jogadores direcionado à torcida.
“Sabemos que palavras não são suficientes em situações como esta, mas acredite, uma derrota como esta dói. Agradecemos seu apoio, em casa e fora, e com isso em mente gostaríamos de reembolsá-los com o preço de seus ingressos para o St James Park [o estádio do Newcastle].”
Perto de 3.200 fãs do Tottenham receberão de volta o valor do ingresso, caso façam a solicitação ao clube.
Os preços cobrados pelo Newcastle variam conforme cada jogo. Para esse especificamente, a ESPN relatou que os torcedores do Tottenham pagaram em média 30 libras (R$ 188) pelo ingresso.
Assim, os atletas terão um prejuízo de R$ 601 mil. Se a conta for repartida igualmente entre os 25 jogadores do elenco (15 aturam no 6 a 1), cada um desembolsará R$ 24 mil –para vários deles, com salários astronômicos, é uma ninharia.
Não sei se esse ato é inédito, não lembro se já ocorreu antes caso similar. É correto? Vale o debate.
O futebol é um jogo de muitas alternativas, e mesmo os melhores times correm o risco de em um dia infeliz tomarem uma amarga goleada.
Todavia, se o sentimento dos jogadores é de dever não cumprido, de atuação muito aquém da esperada, de falta de empenho ou raça, que o ressarcimento seja feito, seja eventualmente repetido e sirva de exemplo para os futebolistas que ganham salários milionários.
Pois que aqueles que pagam caro para apoiar o clube de coração sofram somente a dor no coração, e não a no bolso.
Em tempo: Para que a compensação fosse completa, faltou pagar, além do ingresso, o custo da viagem (transporte) e o da alimentação (um sanduíche e uma cerveja ou refrigerante que sejam). Fica a ideia.
