Atletas mais lentos são exemplo de perseverança e resiliência nas provas de rua – 26/05/2023 – Na Corrida
Era para correr 21 km, mas acabei fazendo 31 km. Meia maratona e meia.
A culpa foi minha. A Asics Golden Run coincidiu com meu último treino longo – normalmente chamado de ‘longão’, palavra horrível que eu me recuso a usar – antes da Maratona de Porto Alegre, que acontece daqui dois finais de semana. E não há jeito melhor para correr longas distâncias do que uma prova real, bem organizada, na qual o atleta encontra estrutura, hidratação farta e uma multidão de corredores para fazer companhia.
Só tinha um problema. A distância máxima da prova era de 21 km. Se fizesse o percurso tradicional, eu ficaria ‘devendo’ 10 km. E corredor raiz prefere dever dinheiro para o agiota do que deixar a planilha de treinos incompleta.
Daí veio a ideia de refazer parte do circuito. No 18 km, já quase chegando, eu dei meia volta e fui para o lado oposto, na marca dos 9 km. Como a prova foi na Marginal Pinheiros e apenas alguns cones separavam o percurso de ida e de volta, a tarefa foi fácil. Depois da manobra, corri sozinho boa parte do tempo do meu lado da pista, até começar a alcançar os atletas mais lentos.
Foi aí que começou a melhor parte. Aqueles que ficam para o final não olham para o relógio. Com dor, eles perseveram. Com dificuldade, eles avançam. As limitações, eles superam. E, nos últimos metros, sorriem e se parabenizam, agradecem uns aos outros, quase como se fossem um grupo a parte, que não liga para o pace, mas que se importa em ir até o final.
Vi muitos corredores avançando enquanto os cones eram retirados pela organização. A marginal precisava ser liberada para o tráfego de veículos, mas isso não parecia intimidar aqueles atletas.
Com todos eles eu troquei algumas palavras enquanto corria. E depois de cada interação eu saí mais forte, com o fôlego renovado. Cansado, mas feliz.
Cheguei em 4233º lugar, 12 posições na frente do último.
“Eu não teria conseguido se não fosse por você”, ouvi um corredor dizer ao seu novo melhor amigo ao cruzar a linha de chegada. Eu pensei o mesmo. Não disse na hora, mas estou escrevendo agora. Se eles não tinham desistido, eu também não desistiria.
Como diz a amiga Dani Germano, lento ou rápido, um quilômetro é um quilômetro.
Sempre me questionam sobre o fato de todo mundo ganhar medalha ao final de uma corrida de rua. Para quem não está inserido nesse mundo, soa como prêmio de consolação. Pois eu afirmo: aqueles atletas mereciam muito suas medalhas. Eles também eram campeões.